Qual é o plural de “pãozinho”?

GRAMATICAIS. O plural dos diminutivos costuma ser objeto de dúvida entre aqueles que escrevem no registro formal da língua portuguesa. Isso porque nem sempre basta acrescentar o “-s” de plural ao substantivo que está nesse grau. Há casos em que se faz uma espécie de dupla flexão. Qual é o plural de “pãozinho”? Se você respondeu “pãezinhos”, acertou. Vamos ver por que não se diz “pãozinhos”.

Bem, o primeiro ponto a observar é que, se o sufixo de diminutivo for a forma “-zinho” (com “z”), o plural não se faz apenas com o acréscimo de um “s”. Tomemos a palavra “favorzinho”, muito comum no cotidiano. Primeiro, nós a fazemos voltar ao seu grau normal (“favor” em vez de “favorzinho”) e depois a flexionamos (obtendo, assim, a forma “favores”). Em seguida, retiramos o “s” de “favores” (“favore-”), acrescentamos o sufixo ”-zinho”, de diminutivo (“favorezinho-”), e só então devolvemos o “s” retirado (“favorezinhos”).

Convém lembrar que o sufixo “-inho”, que é uma forma variante de “-zinho”, não leva a essa dupla flexão, pois aglutina-se ao radical, de modo que o acréscimo do “-s” final é suficiente. É o que ocorre, por exemplo, com a forma “menininho” (pl. “menininhos”). Existe também a forma “meninozinho”, com o sufixo “-zinho”, que não se aglutina, cujo plural é “meninozinhos”.

É regular na língua que seja usado “-zinho” em vez de “-inho” nos diminutivos de termos que, no grau normal, terminam em vogal tônica (avó – avozinha, café – cafezinho, irmã – irmãzinha), em ditongo (chapéu – chapeuzinho, degrau – degrauzinho, irmão – irmãozinho, leão – leãozinho, pão – pãozinho) e em sílaba tônica fechada por consoante (armazém – armazenzinho, colar – colarzinho etc.). Nas oxítonas terminadas em “-l”, pelo menos no Brasil, onde o “l” nessa posição tem som de “u”, prevalece o sufixo “-zinho” (papel – papelzinho, pastel – pastelzinho etc.).  Em Portugal, por exemplo, ocorre também a forma “papelinho”. 

Na linguagem familiar, é comum o emprego de “-inho/ -inha”, independentemente da terminação da palavra. As formas “mainha” e “painho”, por exemplo, ouvidas no lugar de “mãezinha” e “paizinho”, são frequentes no registro informal em algumas regiões do Brasil. Por outro lado, a forma com “z” é expressiva em diversos contextos, como se pode observar nesta passagem de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:

Pois essezinho, essezim, desde que algum entendimento alumiou nele, feito mostrou o que é: pedido madrasto, azedo queimador, gostoso de ruim de dentro do fundo das espécies de sua natureza.

Pareceu complicado? Na verdade, merecem atenção as palavras cujo plural no grau normal não se faz apenas com o “s”. São essas que, no diminutivo, têm a dupla flexão de número. É o caso de “barzinho” (bar – bares), cujo plural é “barezinhos”, o de “favorzinho” (favor – favores), cujo plural é “favorezinhos”, e, naturalmente, o de “pãozinho” (pão – pães), cujo plural é “pãezinhos”.

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Publicado por Thais Nicoleti

Thaís Nicoleti é formada em português e linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e licenciada pela Faculdade de Educação da mesma universidade.

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