GRAMATICAIS. A palavra “apologia” definitivamente ganhou o gosto popular. Está todos os dias nos jornais e/ou nas redes sociais. Por alguma razão, no entanto, há certa insistência em alterar a sua regência original. Todos os dias, temos lido expressões como “apologia ao crime”, “apologia ao nazismo” e outras do gênero, embora também se veja a regência tradicional, que é “apologia de” alguma coisa.
Uma hipótese para tentar explicar essa alteração é que esteja havendo algum tipo de cruzamento com a palavra “incitação”, que, esta sim, rege a preposição “a”. Por vezes, ocorrem na língua cruzamentos de base semântica que levam a mudanças na regência (um termo assume a regência de um sinônimo).
Observamos, porém, que os termos “incitação” e “apologia” não são sinônimos, o que, a meu ver, concorre para que mantenhamos a regência original de cada um deles. Apologia é o elogio de alguma coisa ou mesmo a sua defesa. Alguém pode fazer, por exemplo, uma “apologia do comunismo” ou uma “apologia do cristianismo”. Temos, nesses casos, o elogio ou a defesa de um ideário. Somente isso.
A preposição “a” costuma indicar movimento em certa direção (embora tenha muitos outros sentidos), como vemos em situações como “levar alguém a fazer algo”, “incitar alguém a fazer algo”, “orientar alguém a fazer algo”, “chegar a certo ponto” etc. A incitação é um estímulo à ação.
Alguém poderia dizer que tanto o elogio como a defesa de uma ideia podem produzir um estímulo, ainda que indireto, a algum tipo de ação. Essa será uma questão filosófica ou mesmo legal, que, no entanto, é insuficiente para justificar a alteração da estrutura gramatical. A apologia de uma ideia pode constituir uma incitação à prática de crimes? Essa é a questão, em formulação gramatical correta (“apologia de” e “incitação a”).
ADOREI O TEXTO.
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