GRAMATICAIS. DEU NA MÍDIA. Extraído de uma matéria jornalística, o período “Ele considera problemático que a fala de Monark possa ser enquadrada como crime” apresenta uma construção sintática que se tem visto com alguma frequência, embora contenha flagrante imprecisão.
“Enquadrar”, como se percebe com facilidade, é “pôr em quadro ou moldura”. Desse sentido inicial decorre a extensão semântica. No âmbito legal, é costume usar esse verbo ao analisar condutas em face da tipicidade legal: afinal, a fala do youtuber Monark pode ou não ser enquadrada em algum tipo penal, ou, grosso modo, existe alguma lei que descreva tal conduta e a ela atribua caráter delituoso?
O problema da construção está na regência verbal, pois a conduta enquadra-se ou não em algo, não como algo. A conduta que se enquadra em algum tipo penal é um crime. Caso substituamos “enquadrar” por “considerar”, aí sim, teremos “a fala possa ser considerada [como] um crime” – o uso de “como” não é obrigatório nesse caso, e geralmente os gramáticos recomendam a sua supressão (A fala de Monark pode ser considerada um crime?).
Em suma, ao usar “enquadrar”, pense na moldura em que uma tela se encaixa. Enquadrar-se em algo, não “como algo”. É claro que não basta substituir a preposição, pois ninguém diria que a conduta se enquadra em crime, certo? Toda a formulação deve ser alterada.