GRAMATICAIS. DEU NA MÍDIA. A confusão entre “a” e “há” é frequente entre os redatores. O mais comum é que a preposição “a” acabe ocupando indevidamente a posição da forma verbal “há” em construções que evocam passagem de tempo, mas o fragmento selecionado hoje, como veremos a seguir, traz o verbo “haver” no lugar da preposição.
É oportuno lembrar que o tempo decorrido é expresso pelo verbo “haver” (Há dois anos, estive lá) e também pela forma de terceira pessoa do singular do verbo “fazer” (Faz dois anos que estive lá).
Ao noticiar o novo sistema eletrônico de multas de trânsito, um redator nos contou que um grande número de multas já foi emitido por agentes que estão há quilômetros de onde foram cometidas as infrações.
O verbo “haver” não se presta à expressão de distância. Nesse caso, deveria ter sido usada a preposição “a”: agentes que estão a quilômetros do local das infrações.
É importante notar que a preposição “a” pode indicar distanciamento não só no espaço como também no tempo, o que é diferente de tempo decorrido. Quando dizemos, por exemplo, “daqui a pouco”, o “a” expressa o limite de um intervalo. É por isso, aliás, que não devemos omitir a preposição em construções como “daqui a três dias”, “daqui a um mês”, que tantas vezes temos visto escritas sem ela (“daqui três dias”, “daqui um mês”).
É essa ideia de distanciamento no tempo que explica construções como A duas semanas da estreia, o ator adoeceu gravemente ou A seis meses da eleição, o candidato queria mudar de partido. Note que, nesses dois casos, o ponto de referência (estreia, eleição) está no futuro, portanto o tempo (duas semanas, seis meses) expressa uma medida, ou seja, quanto tempo falta para o evento em questão. Nessa situação, o correto é usar a preposição “a”.