GRAMATICAIS. Os pronomes átonos (o, a, os, as, lhe, lhes, me, te, se, nos, vos) ora ficam antes do verbo (próclise), ora ficam depois dele (ênclise). Há situações em que eles ficam no meio do verbo (mesóclise), o que se vê com baixa frequência no português do Brasil.
Existem várias regras de colocação, mas uma coisa é certa: o “que”, sendo pronome relativo ou conjunção, é um fator de próclise. Daí se dizer que o “que” atrai o “se”. Vejamos o que fez o redator de um comunicado oficial de uma escola:
“Também aproveitamos a oportunidade para levar nossas condolências aos estudantes e à equipe, reforçando nosso intuito de garantir suporte à comunidade escolar, com apoio psicológico a todos que sentirem-se atingidos por essa tragédia que se abateu sobre nossa escola”.
No trecho acima, o “que” é um pronome relativo (como o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quem), portanto “atrai” o pronome átono “se”. Na dúvida, o ouvido pode ajudar: entre “que sentirem-se” e “que se sentirem”, o que soa mais natural? Certamente a próclise!
É comum que, para dar ao texto certo ar de formalidade, o redator opte pela ênclise, mas esse não é um bom critério. Na maior parte das vezes, a colocação correta é a próclise, portanto o uso da ênclise para dar ar formal ou elegante acaba sendo um mau negócio, que atende pelo nome de hipercorreção.
Hipercorreção (ou ultracorreção) é uma espécie de falsa correção, em que o redator toma por errado o que estava certo e o “corrige” às avessas. Voltaremos a esse tema futuramente. Por enquanto, vamos corrigir o fragmento acima, que vai precisar também do pronome demonstrativo “os” depois de “todos”. Diga sempre “todos os que”, certo? Vejamos:
… com apoio psicológico a todos os que se sentirem atingidos por essa tragédia que se abateu sobre nossa escola.