“Aura”, não “áurea”

GRAMATICAIS. SEMÂNTICA. Nas redes sociais, é comum a confusão entre as palavras “aura” e “áurea”, esta última tomando o lugar da primeira. O problema parece ter chegado à universidade, dado que observado em artigo de revista acadêmica no qual o autor lamentava a “áurea antiuniversitária e o anticientificismo instaurados nos últimos quatro anos no Brasil”.

Trata-se de um par de parônimos, palavras que guardam entre si certa semelhança formal, embora estejam longe de ter o mesmo significado. “Áurea” nem mesmo é um substantivo, donde, de saída, já soa estranho dizer “uma áurea” do que quer que seja.

Esse adjetivo refere-se ao ouro (“aurum”, em latim) e àquilo que é da sua cor ou que brilha como ele. No sentido figurado, estende-se à ideia de magnificência, brilho (elegância áurea, Lei Áurea). É o termo usado na expressão “proporção áurea”, que, desde a Antiguidade, é usada na arte como uma espécie de padrão de simetria baseado na natureza (coisa que bem pode ser explicada por um matemático).  

O substantivo “aura”, por sua vez, pode designar um vento ameno ou aragem, mas, mais do que isso, descreve um conjunto de elementos sutis que caracterizam uma pessoa (O diretor tem certa aura de seriedade), um lugar (O local tinha inegável aura de mistério) ou qualquer outra coisa. No campo da parapsicologia, a aura é uma espécie de campo de energia que irradia dos seres vivos.

O termo, naturalmente, tem seu uso expandido e poderia ser facilmente compreendido caso tivesse sido usado no lugar de “áurea” na frase “a áurea antiuniversitária e o anticientificismo instaurados nos últimos quatro anos no Brasil”. Certamente, a intenção do autor foi dizer que há uma “aura antiuniversitária”, ou seja, uma aparência desse estado de espírito coletivo de negação do saber acadêmico.

Publicado por Thais Nicoleti

Thaís Nicoleti é formada em português e linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e licenciada pela Faculdade de Educação da mesma universidade.

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