“Independente” e “independentemente”

GRAMATICAIS. Há quem não veja problema em usar o adjetivo “independente” no lugar do advérbio “independentemente”. Em geral, o argumento é o de que os adjetivos podem, sim, ser adverbializados, como ocorre em “Ele fala muito rápido” ou “Ela fala muito alto”, em que “rápido” e “alto”, embora sejam adjetivos, exercem função de advérbio.

Contra essa percepção, no entanto, atua a sintaxe. Note-se que, em “falar rápido” ou “falar alto”, o adjetivo está posto imediatamente depois do verbo, o que favorece a sua transformação em advérbio (falar de modo rápido/ rapidamente, falar de modo alto/ altamente). Com “independente/ independentemente”, isso não ocorre.

Vejamos um excerto, extraído de texto de jornal, em que o redator usou o adjetivo no lugar do advérbio:

Independente das regras que virão, as escolas precisam agir mais e melhor agora. Há muitas experiências positivas que precisam ser compartilhadas. 

O adjetivo “independente” tem o sentido de “autônomo” (cinema independente), bem como o de “insubmisso” (jovens independentes, mulher independente), entre outras acepções. O advérbio, por sua vez, aparece como modificador de uma afirmação completa. Vejamos duas situações, em que a distinção entre os termos fica clara:

 Independentemente das regras que virão, as escolas precisam agir mais e melhor agora. Há muitas experiências positivas que precisam ser compartilhadas. [reescrita do excerto acima, agora com o advérbio “independentemente”]

Independentes, as escolas decidiram manter sua grade curricular.  [o adjetivo “independentes” concorda com o substantivo “escolas”]

Publicado por Thais Nicoleti

Thaís Nicoleti é formada em português e linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e licenciada pela Faculdade de Educação da mesma universidade.

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