Grafia de “subjugar”

GRAMATICAIS. É importante evitar o erro de grafia que consiste em usar a letra “l” depois do segundo “u” de “subjugar”. Mais comum do que possa parecer à primeira vista, a grafia “subjulgar” aparece com alguma frequência na grande imprensa, bem como em sites e blogs. É provável que o erro seja motivado pela falsa interpretação de que o prefixo “sub-” estaria posto antes do verbo “julgar”.

Abaixo, arrolamos alguns casos colhidos em diversas fontes. No primeiro deles, temos o que se entendeu ser a expressão “sob o julgo de”, que não existe na língua portuguesa. Vejamos:

(a) O ponto central é que a presidência da república já está sob o julgo de interesses internacionais.

Ora, a expressão nada tem que ver com a ideia de “julgar”. O substantivo que atua como seu núcleo é “jugo”, que, no sentido literal, é o mesmo que “canga”, ou seja, a peça de madeira que se põe sobre a cabeça dos bois para atrelá-los a uma carroça ou arado. No sentido figurado, “jugo” quer dizer “sujeição” ou “opressão”. Estar sob o jugo de alguém é estar sob o seu domínio.

Vale dizer, a título de curiosidade, que o substantivo “cônjuge” tem origem nesse termo. Estariam os cônjuges atrelados um ao outro como uma parelha que puxa um veículo de carga. Vejamos alguns casos em que os redatores imaginaram que o termo tivesse alguma relação com a ideia de “julgar”:

(b) Ao final do mês, o único mimo que compartilhava com uma vizinha era dar um pote de marmelada para que as crianças dividissem. A vida era dura e não foi fácil trocar as novas tentativas de casamento por uma existência subjulgada.

(c) “Temos que cooperar entre nós agentes políticos e partidos políticos, independente de partidos políticos, independente de ideologias, o que não significa que jamais seremos subservientes ao governo federal, jamais estaremos subjulgados ao Poder Judiciário”, afirmou.

(d) Em seu livro “Cyber War Will Not Take Place” (“A Ciberguerra não Acontecerá”), Rid argumenta que um ato ofensivo qualquer, para ser considerado ato de guerra, deve obedecer três critérios. Primeiro, deve ser fisicamente violento, ou seja, deve ter vítimas. Segundo, deve ser instrumental, ou seja, a violência deve ser um meio para atingir um fim. Por último, atos de guerra são, necessariamente, políticos: um Estado a fim de subjulgar outro.

(d) A montanha-russa de uma vida marcada por gastos exorbitantes e escândalos familiares subjulgou a imagem de self-made woman

No item (c), além do erro de grafia em “subjulgados”, temos o uso incorreto de “independente” no lugar de “independentemente”, tema tratado em recente publicação.  Em (d), encontramos também uma regência fora do padrão: o verbo “obedecer” pede complemento iniciado pela preposição “a” (“obedecer a três critérios”).

Lembre-se: não existe “subjulgar”; o correto é “subjugar” (de “jugo”); a locução prepositiva é “sob o jugo de”. Certo? Os textos, depois de corrigidos, ficariam assim:

(a) O ponto central é que a presidência da república já está sob o jugo de interesses internacionais.

(b) Ao final do mês, o único mimo que compartilhava com uma vizinha era dar um pote de marmelada para que as crianças dividissem. A vida era dura e não foi fácil trocar as novas tentativas de casamento por uma existência subjugada.

(c) “Temos que cooperar entre nós agentes políticos e partidos políticos, independentemente de partidos políticos, independentemente de ideologias, o que não significa que jamais seremos subservientes ao governo federal, jamais estaremos subjugados ao Poder Judiciário”, afirmou.

(d) Em seu livro “Cyber War Will Not Take Place” (“A Ciberguerra não Acontecerá”), Rid argumenta que um ato ofensivo qualquer, para ser considerado ato de guerra, deve obedecer a três critérios. Primeiro, deve ser fisicamente violento, ou seja, deve ter vítimas. Segundo, deve ser instrumental, ou seja, a violência deve ser um meio para atingir um fim. Por último, atos de guerra são, necessariamente, políticos: um Estado a fim de subjugar outro.

Publicado por Thais Nicoleti

Thaís Nicoleti é formada em português e linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e licenciada pela Faculdade de Educação da mesma universidade.

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