GRAMATICAIS. Nós nos acostumamos, pelo menos no português do Brasil, a usar um “o” antes do pronome interrogativo “que” quando este tem valor de substantivo. Note como são comuns construções como O que aconteceu?, O que você acha disso? ou O que você quer?. Diga-se, porém, que esse “o” não tem função alguma. Alguém ainda se lembra de quando perguntávamos Que foi? Por que você está triste?, sem o “o” antes do pronome “que”?
Vale observar que, quando o pronome interrogativo é adjetivo, o “o” desaparece: Que sentido tem essa palavra? Que horas são? Que dia é hoje? Curiosamente, construções como Que são células? ou Que você acha disso? passaram a ser antecedidas desse “o”, que vem sendo aceito como “facultativo”. O fragmento que vamos examinar hoje, extraído de um texto de articulista de jornal, traz duas ocorrências desse “o”. Vamos a ele.
O que capturava Dora nesse jogo erótico e com o que ela se identificava ao permanecer nele? A chave para tirar o paciente do vitimismo, sem negligenciar o enredo do qual faz parte, é ajudá-lo a reconhecer para si mesmo o que ele fez com os limões que a vida lhe deu.
No início do período, temos o caso típico do “o” que passou a anteceder o pronome interrogativo substantivo “que” (O que capturava Dora?). Na segunda passagem, o pronome interrogativo é antecedido de uma preposição (“com”), situação na qual esse “o” inútil cria uma complicação, porque faz parecer que existe ali um pronome demonstrativo “o” (equivalente a “aquilo”), que naturalmente não existe.
Para facilitar o raciocínio, vejamos algumas interrogações sem esse “o”: De que você está falando? Para que fazer isso? A que se presta isso? Com que você concorda, afinal? Não fez a menor falta! Agora vejamos casos em que o “o” (pronome demonstrativo) é necessário antes do “que”:
- O que me importa é preservar minha liberdade.
- Deu seu apoio ao candidato, o que surpreendeu muita gente.
Na primeira sentença, o “o” pode ser substituído por “aquilo” ou “a coisa que”; ele é o sujeito do verbo “importar-se”. Na segunda, o “o” exerce a função de aposto resumidor de toda a oração anterior e serve de base para a oração adjetiva iniciada pelo pronome relativo “que”; nesse caso, é o “o” que nos permite entender que o que surpreendeu muita gente foi alguém ter dado apoio ao candidato; sem o “o”, o sentido mudaria (Deu seu apoio ao candidato, que surpreendeu muita gente = o candidato é que surpreendeu).
O mais recomendável é usar o “o” antes do “que” só quando ele for necessário. Vejamos:
Que capturava Dora nesse jogo erótico e com que ela se identificava ao permanecer nele?
O que capturava Dora nesse jogo erótico era algo misterioso, aquilo com que ela se identificava.
Professora Thaís,
Em primeiro, parabéns pelo dia do professor.
Eu sempre achei estranha esta frase: Do que se trata? Acho melhor assim: De que se trata?
Abraço,
Ronaldo
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Oi, Ronaldo! Obrigada pelo cumprimento! Concordo inteiramente com você: de que se trata? Abraços.
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Concordo com você! Não existe esse “o”.
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