“Atentar para”

GRAMATICAIS. O verbo “atentar”, empregado no sentido de observar ou olhar com atenção, não é pronominal. Verbos pronominais são aqueles que se constroem necessariamente com um pronome átono, como “arrepender-se” (eu me arrependo) ou “queixar-se” (eu me queixo). Embora não seja esse o caso de “atentar”, temos visto, já com alguma frequência, esse uso no registro oral, do qual tem migrado para os textos da imprensa. Vejamos um caso:

Nós temos que nos atentar para as eleições parlamentares. Não adianta só eleger um presidente, um governador, e ter um parlamento que expresse o pior da sociedade brasileira.

No trecho acima, extraído de um jornal, vemos o emprego abusivo do pronome átono (nos). Vamos reforçar que o verbo “atentar” não é pronominal. Isso quer dizer que não se diz “eu me atentei para”, e sim “eu atentei para”. Assim:

Nós temos de atentar para as eleições parlamentares.

Não se confunda, porém, essa com outra acepção do verbo, qual seja, a de praticar atentado contra algo ou alguém, caso em que se diz “atentar contra” (Atentou contra a vida das crianças); o mesmo vale para o sentido figurado (Atentou contra a moral e os bons costumes).

Assim, temos “atentar contra algo ou alguém” (cometer atentado) e “atentar para algo” (olhar para algo com atenção). Cada preposição (contra, para) está associada a um dos significados do verbo. Certo?  

Publicado por Thais Nicoleti

Thaís Nicoleti é formada em português e linguística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e licenciada pela Faculdade de Educação da mesma universidade.

Um comentário em ““Atentar para”

Deixar mensagem para Lucimário Rocha dos Reis Cancelar resposta