GRAMATICAIS. Nos textos da imprensa, é comum observarmos certa tendência à pluralização desnecessária de termos de natureza coletiva. Vejamos um exemplo, extraído do noticiário da Covid-19:
Há pessoas que não aguentam mais o equipamento de proteção individual e já planejam fazer fogueiras com os espólios da guerra contra a Covid-19.
O substantivo “espólio” denomina um conjunto de coisas tomadas ao inimigo em situação de guerra, bem como o produto de um roubo ou mesmo o conjunto de bens deixados em herança. É claro que o autor do texto usou o termo em sentido figurado, mas nos chama a atenção a sua pluralização.
Sendo o termo capaz de, no singular, nomear um conjunto de elementos, não há por que flexioná-lo. Assim:
Há pessoas que não aguentam mais o equipamento de proteção individual e já planejam fazer fogueiras com o espólio da guerra contra a Covid-19.
O mesmo se observa com a palavra “entulho”, que também é um conjunto de restos de demolição ou de material de construção sem utilidade. Vejamos como apareceu em texto do noticiário:
Do alto de um penhasco na zona leste de São Paulo, próximo à avenida Aricanduva, o pedreiro Marcelo Augusto Soares do Nascimento, 25, aponta para um grande terreno que por anos recebeu o descarte irregular de entulhos.
Bastaria, naturalmente, usar o singular:
Do alto de um penhasco na zona leste de São Paulo, próximo à avenida Aricanduva, o pedreiro Marcelo Augusto Soares do Nascimento, 25, aponta para um grande terreno que por anos recebeu o descarte irregular de entulho.
Outro caso semelhante é o da corriqueira expressão “material escolar”, que já vem aparecendo no plural:
O levantamento da Abrace vai além da alimentação e também analisa itens como materiais escolares e bens duráveis.
Ora, o “material escolar” é o conjunto de petrechos destinados à atividade dos estudantes na escola (lápis, caneta, borracha, régua, caderno etc.). O lápis, por si só, não é “um material”; ao conjunto de itens é que se denomina material. O mesmo vale para material bélico, material didático, material cirúrgico ou material de construção.
Diremos, portanto:
O levantamento da Abrace vai além da alimentação e também analisa itens como material escolar e bens duráveis.
Oi, Thaís! Obrigada pelo post! E em relação ao que parecem ser “expressões”? Por exemplo, em uma frase na linha: “essas praias são parada obrigatória (ou paradas obrigatórias?) para quem conhecer o litoral”. Nesse caso não temos uma palavra que nomeia um conjunto (como espólio ou material escolar), mas todo o conjunto de praias seria uma “parada obrigatória”, digamos. Como você avalia? Deixamos no plural ou singular? Obrigada!
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Oi, Luísa, tudo bem?
De fato, não é exatamene o mesmo caso, mas o que você diz está correto, ou seja, o conjunto de praias constitui “parada obrigatoria”. Eu manteria o singular, como me parece que você esteja inclinada a fazer. Esse caso é semelhante ao de construções como “esses modelos são o destaque da temporada” ou “políticos são o alvo principal das críticas”. Certo? 🙂
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Obrigada!
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*parada obrigatória (está sem acento na resposta à Luísa Pessoa), mas foi erro de digitação.
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