GRAMATICAIS. DEU NA MÍDIA. Em época de eleição e de pesquisas de opinião, voltamos a ler nos jornais as construções “fulano oscila para cima” ou “beltrano oscila para baixo”, relativas à movimentação de pontos percentuais nos levantamentos estatísticos. Um exemplo disso foi publicado recentemente em um jornal:
BTG/FSB: Lula fica estável com 45%; Bolsonaro oscila dois pontos para cima…
Os jornalistas, aparentemente, cunharam essas construções (“oscila para cima” e “oscila para baixo”) para noticiar as variações na porcentagem de aprovação (ou de rejeição) do candidato ocorridas dentro da margem de erro da pesquisa. Caso usassem os verbos “subir” e “descer”, incorreriam em erro estatístico, pois as variações dentro da margem de erro, rigorosamente, são desprezíveis desse ponto de vista.
Se fôssemos analisar o caso com o devido rigor, diríamos que esse tipo de variação, uma vez que esteja dentro do intervalo erro estatístico, nem mesmo deveria ser notícia. Toda pesquisa informa qual é a sua margem de erro (em geral, 2 ou 3 pontos percentuais), e esse dado é importante, pois um candidato que suba 1 ponto percentual, por exemplo, não terá “subido” efetivamente. Os jornais, no entanto, não querem perder um milímetro sequer da movimentação das pesquisas e acabam fazendo certos malabarismos linguísticos.
“Oscilar”, como sabemos, é fazer o movimento de pêndulo, ou seja, ir e voltar de um lado para outro. Podemos aceitar facilmente que o movimento pendular, por analogia, se dê entre um ponto superior e um ponto inferior. Não seria esse o maior problema do uso do verbo nessa situação específica. O que complica a situação é que a oscilação é um movimento de vaivém. Não há como oscilar “para um lado”.
Uma sugestão para evitar o uso forçado do verbo “oscilar”, flagrantemente inadequado, seria, por exemplo, o seguinte:
BTG/FSB: Lula fica estável com 45%; Bolsonaro avança dois pontos dentro da margem de erro
Claro está que a reportagem deveria explicar o que é margem de erro e deixar claro que a variação, quando se dá dentro desse intervalo, não representa, efetivamente, nada do ponto de vista da estatística. Esse título, por certo, revelaria que sua informação é inócua, mas, pelo menos, seria honesto e gramaticalmente correto.