GRAMATICAIS. O título acima expressa uma espécie de consenso nacional. No português do Brasil, há predileção pelo uso do pronome átono antes do verbo, independentemente da situação, o que seria uma das marcas que distinguem a sintaxe brasileira da portuguesa.
Na linguagem espontânea, isso parece de fato ser verdade. No registro escrito, no entanto, a ênclise continua sendo usada com frequência, embora nem sempre de acordo com a tradição. O exemplo a seguir, extraído de um texto jornalístico, mostra um desses casos, que não são poucos (basta observar com atenção as páginas dos jornais). Vejamos:
“Em resposta a um artigo publicado na revista The Economist, o chanceler Mauro Vieira escreveu uma carta elogiando Lula. Nela afirmou que a ‘autoridade moral’ do presidente é ‘indiscutível’. Indiscutível não é, tanto que a revista discutiu-a.”
A prática de usuários escolarizados do idioma, como os jornalistas e os intelectuais, mostra, na verdade, um quadro bastante irregular. Se, na fala, a próclise de fato prevalece, na escrita, as coisas mudam um pouco de figura. O excerto acima é um dos muitos em que um autor escolhe a ênclise numa situação caracteristicamente de próclise. Dito de outra forma, a tradição luso-brasileira jamais usou ênclise na oração subordinada iniciada pela conjunção (“tanto que”), uma situação típica de próclise, como se pode aferir em qualquer gramática.
Ora, se nós, brasileiros, somos adeptos incondicionais da próclise, a ponto de a usarmos até no início dos períodos (pelo menos, no registro informal), por que, em uma situação típica de próclise, optaríamos pela ênclise?
É possível aventar a hipótese de que a ênclise, por ser mais rara entre nós, soe mais erudita, o que levaria à sua escolha em certos contextos. Essa é uma possibilidade, que, na verdade, mostra desconhecimento das regras – e isso não surpreende, pois as escolas têm dado pouca atenção a esse tópico. Na prática, porém, voltando ao período acima, percebemos como a leitura da frase fica postiça com a ênclise. Experimente ler o período em voz alta com a colocação pronominal correta:
Em resposta a um artigo publicado na revista The Economist, o chanceler Mauro Vieira escreveu uma carta elogiando Lula. Nela afirmou que a “autoridade moral” do presidente é “indiscutível”. Indiscutível não é, tanto que a revista a discutiu.”
Muito mais natural – e correto, à luz da norma padrão da língua portuguesa.
A dica de hoje para os que se orientam pela norma padrão é manter a próclise nas orações subordinadas iniciadas por uma conjunção. Alguns exemplos: Embora se sentisse triste, saiu com os amigos; Como lhe dissera antes, não pretendia continuar no curso; Se me ajudar agora, será recompensado. As conjunções “embora”, “como” e “se” são fatores de próclise.
Voltaremos a este tema mais vezes.
Professora Thais
A postagem de hoje foi uma resposta direta à minha dúvida. Li a matéria mencionada e o uso da ênclise me incomodou. Não me detive para investigar a dúvida, mas a professora estava atenta e a solucionou. Muito obrigada e parabéns pelo trabalho.
Abraço
Liana
Liana Amaral
lianadoamaral@gmail.com
11 997715483
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Que bom, querida! Se tiver dúvidas ou sugestões, é só enviar! Um beijo
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